Num rincão pampa de sombra mora um velhito e deus
Mal sabe onde estão os seus mas sabe muito da vida
Vive das almas que cruzam e apeiam na porteira
Na calma das corticeiras de promessas esquecidas
Vez por outra algum campeiro numa volta de domingo
Desencilha e solta o pingo pra pastar um bom do verde
E lhe chega de visita pra um mate com pouca erva
Pois isso tem de reserva pra um amigo matar a sede
Dizem que foi capataz de uma estancia no seival
Que amansou muito bagual com jeito e laço nos tentos
Que estendeu tropas pesadas por estradas e arroios
Mas assim feito os aboios se perdeu na voz dos ventos
Foi mansidão de olho d agua quando lhe foi boa vida
Fúria de sanga crescida quando a morte fez costado
Dizem que paga os pecado que cometeu quando moço
Mas não há fundo de poço que não tem algo guardado
Alma de rancho nos olhos sabe da vida e lhe basta
Coração manso que pasta na mesma sombra que os bois
Que talvez hoje ainda valham bem mais que a própria existência
De quem já teve querência um antes e um depois
Todos sabem que o velhito morador das corticeiras
que as vezes abre a porteira quando o cusco avista alguém
neste fundo rincão pampa mora uma alma esquecida
que espera pouco da vida que lhe deu pouco tambem