Esse cavalo que tenho
Me enxerga e faz uma festa
E mesmo lá do galpão
Me cuida por uma fresta!
Quando relincha no campo
Acorda Deus da sua sesta
Pois seu relincho de taura
Lembra o clarim de uma gesta!
Herdou lonjuras de pampa
E mistérios de floresta
Tem duas luas nos olhos
E um coração bem na testa
Joga carreira com o vento
Quando a corres desembesta
Esse cavalo que tenho
Único bem que me resta!
Esse cavalo que tenho
Que a própria alma me empresta
Quando relincha no campo
Acorda Deus da sua sesta.
Parece o violino crioulo
Do Becho na orquestra
E a alma de Dom Alfredo
Naquela milonga mestra.
Esse cavalo que tenho
Único bem que me resta.
Se Deus andar nesse flete
Garanto que anda sorrindo
Quem sabe é num pingo desses
Que ele do céu vem vindo
Para acordar esta terra
Que a muito está perdida
E ver a gente encontrar
A fé que anda esquecida.
Esse cavalo que tenho
Nunca refuga pra perigo
É um irmão de pelo e crina
Que anda sempre comigo
Quando encilho este pingo
E ele fareja bochincho.
Tem um timbre de cordeona
Floriando a cada relincho.
Esse cavalo que tenho
Que a própria alma me empresta
Esse cavalo que tenho
Único bem que me resta.